terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Da dualidade de sentimentos. Ou de como aqui deste lado, nem todos os dias são de sol.

A minha licença de maternidade está a chegar ao fim. E o aproximar da hora do regresso ao trabalho e, consequentemente, de deixar o Martim na creche, está a criar um turbilhão de sentimentos, dúvidas, anseios e nervos, muitos nervos.
Por um lado sinto-me feliz e motivada com o regresso ao trabalho. Tenho saudades do meu trabalho, das minhas pessoas, da motivação diária, do esforço de correr atrás e nunca desistir, das muitas horas dedicadas a um projecto e da satisfação pela realização profissional.
Por outro lado tenho este peso no peito [e na consciência – não perguntem porquê, não sei explicar] de ter de deixar o Martim numa creche. Passo muitas horas do dia a pensar que ainda agora nasceu e já o vou deixar, que ele é tão pequenino, tão frágil, que precisa que tenham [muita] paciência com ele para adormecer, para beber o leite, para brincar, para vesti-lo… E luto contra o pensamento e o sentimento completamente narcisista, e egocêntrico e gabarolas, de que só eu é que sei cuidar bem dele, só comigo é que ele fica bem, eu é que sou a mãe, eu é que sei, e tudo eu-e-só-eu que-sou-uma-grande-mãe-galinha, que me irrita e me anda a deixar com os nervos à flor da pele. Só porque não queria nada que fosse assim.

Adorava que existisse uma solução perfeita, ou quase perfeita. Ter a minha mãe aqui, por exemplo. O Martim só ter de ir para o infantário com um ano, ou dois. Era o que eu mais gostava. Mas não dá. E vai ter de ser assim. E eu tenho de aguentar, mesmo que nos primeiros dias os meus olhos e o meu nariz, vermelhos de tanto chorar, falem por mim e façam entender quem me rodeia que não está a ser fácil. Mesmo achando que me vai custar mais a mim do que ao meu pequeno sammy tartaruga. Isto porque oiço dizer que os bebés se adaptam quase imediatamente a novos ambientes, a novas vozes, a novas pessoas. Mas desculpem a minha teimosia, é que me custa tanto a crer que vai ser assim tão fácil para o Martim, que chega lá e fica bem com quem não conhece… Só consigo pensar, premonir, que ele vai chorar e sofrer imenso com esta separação. Dói-me horrores e prefiro acreditar que as pessoas que me dizem que ele vai ficar bem, que se adapta logo, é que têm razão. Dou por mim a pensar na quantidade de telefonemas que vou fazer ao longo do dia, nas cábulas de "como isto ou como aquilo" que vou deixar, nas mil e seiscentas perguntas que vou fazer quando o formos buscar... Só espero ter sorte com o sítio onde vou deixar o meu menino.

Parvoíces, dirão uns. Lamechices, dirão outros. Um desabafo, digo eu. E já passa. Tem de passar.