quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Deixa lá ver se eu entendo

A. e B. foram casados, tiveram quatro filhos. A. e B. divorciaram-se. A Dona A., ex-mulher, carpe as mágoas e a raiva como sabe e como pode: persegue B. até à quinta casa. B. arranja uma namorada: a Dona C. B. casa com C. e têm uma filha. A., a ex-mulher de B., insiste em dizer aos quatro filhos [filhos estes que adoram o Pai - o senhor B. - e entendem porque é que este se separou da mãe, alunática A.], que a "nova" filha não é irmã verdadeira, é tipo um irmã emprestada, daquelas a brincar, a fingir, como se fosse uma prima afastada ou a filha de uma vizinha. Os miúdos ficam confusos, afinal o pai disse-lhes que a mana [a adorável I.] é irmã verdadeira, de sangue: são todos filhos do mesmo pai, só têm uma mamã diferente. [se fosse ao contrário, se a mãe tivesse um filho com outro homem que não o pai, esse filho é que seria meio irmão].
Os miúdos continuam confusos. Por um lado têm a mãe que adoram e idolatram, apesar de lhe conhecerem todos os defeitos e maldicências contra o pai, que defende e grita que irmãos são só os que ela e B. tiveram, e que a filha do pai com C. não lhes é nada e nunca vai ser. Por outro lado têm o pai que diz precisamente o contrário. E, entre outros problemas, confusões e coisas parvas do mundo dos crescidos, assim crescem quatro crianças. Divididas entre o preconceito, a raiva e a amargura de pai e de mãe. Bem, amargura e vingança da mãe, que continua a mentir e a iludir os filhos sem sequer pensar nas consequências que um dia, toda esta maldicência, vai ter como efeito na vida dos mesmos. E era tão simples como agarrar num livro e explicar à senhora, caso ela não saiba [dúvido], o que são irmãos consanguíneos e irmãos uterinos. Ou explicar-lhe a diferença entre o bem e o mal, o certo e o errado, a decência e a indecência, o amor incondicional a um filho e a raiva que faz duvidar que ele, esse amor, exista e esteja acima de caprichos e guerrinhas infantis. Era tão simples, mas ninguém o faz. Ninguém lhe explica que está errada, bem pelo contrário, ainda lhe dão palmadinhas nas costas e dizem "é isso mesmo, o gajo merece!". O problema é que não é "o gajo" que sofre. E assim continua tudo. No fundo, no fundo, bem lá no fundo, e digam o que disserem, não são os adultos que sofrem mais com os divórcios e separações e o fim de uma vida a dois, são as crianças, que acabam por perder o norte e o sul e se vêem confrontadas com uma realidade de atropelos e insultos, meias verdades e mentiras, que nunca pediram para conhecer, muito menos para viver como protagonistas.