Muitos dos meus minutos são passados a contemplar o meu filho. Muitos dos meus minutos são passados a adorá-lo. Muitos dos meus minutos são passados em estado de vigília, como se fosse um guarda nocturno que guarda com todo o zelo o palácio mais real, mais valioso, mais raro do mundo. Muitos dos meus minutos começam a ser de preocupação com o sentimento de perda. Não sei explicar isto de outra forma, porque é assim que estou a sentir a separação que vai acontecer daqui a pouco tempo [pouco tempo sim, os dias voam e não tarda nada é Fevereiro]. Vou ter de deixar o Martim numa creche, numa ama, num sítio qualquer. Sim, para mim todas as hipóteses que se afiguram, como possíveis, no horizonte são um sítio qualquer. O meu coração só ficaria sereno [um bocadinho mais sereno] se o pudesse deixar com uma das avós, com as tias que o adoram ou com o pai. Como nenhuma destas hipóteses é exequível, o meu coração tão depressa bate, como pára. Parece estúpido, pois parece. Mas não quero saber. Ontem adormeci assim, aflita com o choro dele, com as dores dele, as cólicas, os dentes... Hoje acordei assim. E chorei. Há dias assim.