Agora imaginem o que uma mãe pode sentir quando lhe passam a vida a dizer que o filho não é normal, tem um atraso, um problema, uma deficiência, porque com dois anos ainda não fala. Ou melhor, ele fala, responde a todas as perguntas, faz tudo o que lhe explicamos, reage a todos os estímulos, mas não comunica na nossa linguagem. Diria o José Eduardo Agualusa (in A Substância do Amor) que ele fala sim senhor, nós é que não o entendemos porque fala a linguagem dos pássaros. Pássaros ou focas, o que é certo é que este bebé é meu sobrinho e esta mãe é a minha irmã e só nós sabemos o que pode ser frustrante e cansativo e enervante estar sempre a ouvir o mesmo. Ainda que, com toda a calma que a minha irmã vai mantendo a responder a estas pessoas, lhes diga que a pediatra tranquiliza-a sempre, assegurando que é normal e que há crianças que demoram mais tempo a falar do que outras. Ou a andar, ou a comer sozinhas, etc etc.
Que me desculpem pela franqueza, mas eu acho rude esta pressão e esta forma de ignorância.