Adoro finais felizes. Adoro pessoas que acreditam em finais felizes. Adoro quem acredita num amor que à partida parecia condenado ao fracasso. Adoro amores e projectos de vida a dois que calam as bocas dos profetas da desgraça. Tudo porque numa noite em que não tinham nada para fazer, se lembraram de inventar que algumas pessoas não têm nada a ver uma com a outra... juro que não entendo este conceito. Para mim o que não tem nada a ver com nada é usar botas de neve em pleno verão, é não gostar de chá no inverno, é vestir um vestido amarelo e calçar uns sapatos vermelhos, ou verdes, ou roxos ou umas sandálias à bife, com meias brancas e calções cor caqui (ME-DO). E mesmo assim, hoje em dia usa-se tudo, combinam-se todas as cores e tudo fica bem (menos a história da sandaleca e o pé de gesso... please), porque as pessoas gostam ou porque a moda assim o dita.
No amor tudo acontece de acordo com a primeira hipótese: as pessoas gostam (se). E isso devia bastar. E basta, pelo menos a quem ama. Aos outros, os que estão de fora e que adoram falar da vida dos outros, é que não chega porque simplesmente as pessoas não fazem pendant. E dizem do alto da sua verdade "Eles não têm nada a ver um com o outro. Ela gosta de praia e ele não. Ele gosta de futebol e ela não. Ele estudou e ela não. Ela é bonita e ele é feio. Ela é alta e ele é baixo. Ele é rico e ela não..." e por aí fora, num desfile de anormalidades não fariam sentido em lado nenhum, muito menos no amor...
Porque no amor as escolhas não se fazem, simplesmente acontecem. Porque no amor as pessoas não têm de explicar porque gostam, apenas sentem. E porque o amor, latu sensu, devia ser vivido, sentido, sonhado e esperado como uma receita de culinária que vamos experimentar pela primeira vez. Primeiro apaixonamo-nos pela receita como um todo e queremos arriscar confeccioná-la para conhecer o sabor, o resultado final. Estudamos os ingredientes com cuidado, preparamos tudo o que é necessário para dar certo com carinho e começamos a amar a receita em todas as suas etapas - "estenda a massa sobre uma superfície polvilhada, corte em sete porções e reserve, coza em lume brando ou em banho maria... siga o tempo indicado para a cozedura e esteja atenta ao ponto, por forma a que não fique nem demasiado cozido, nem cru".
É verdade que não existem receitas mágicas para duas pessoas que se amam ficarem juntas. Era juntar o melhor dos dois mundos. Ainda assim, e com a consciência de que não existe o melhor dos dois mundos, fico feliz quando a equação do amor prova que ele é o que de melhor há na vida. E que as pessoas que aparentemente não seriam perfeitas juntas, constroem um amor quase perfeito. Quase... porque perfeito, perfeito só aquele anúncio e esse não fala de amor.
* texto escrito em Maio de 2009.