Confesso que me causa alguma confusão ouvir amigas minhas, conhecidas, colegas e apenas pessoas, dizerem que não fazem nada de nada sem o namorado, cônjuge, amigo-colorido, encosto ou coisa que o valha. Mas como assim, não fazem nada de nada? O dito vai com elas à tira-colo para todo o lado? Não há um programa com amigas, um jantar, um almoço, compras, cinema, teatro, spa, etc em que o cutchi-cutchi não esteja lá? Não há uma ida ao ginásio? Não há uma manhã, tarde, umas horas só para elas e para eles? E também fazem todos os programas que ele gosta e elas não? Tipo, elas não gostam de ir à Luz (e muito bem) mas vão só porque ele gosta e é assim que deve ser? O que me dirão, então, de fazer uma viagem só com amigas? Que eu estou doida, só pode.
Acho que a cumplicidade e a vontade de estarmos sempre com a pessoa de quem gostamos é o sal da relação. Já o disse aqui e reforço. Não obstante, acredito que as pessoas não se devem anular em função de ninguém. Muito menos deixar de fazer coisas de que gostam só porque o special one não se encaixa nesses programas. É que tenho para mim que, mais cedo ou mais tarde, isto acaba por dar mau resultado, ou não?
Pior, mas muito pior, é perceber que estamos a mudar a nossa essência, deixar de fazer coisas que gostamos, só para agradar ao outro, como uma história que me contaram há tempos de alguém que pura e simplesmente se afastou dos amigos, por causa de um namorado, porque vivia em dedicação profunda à causa. Claro que, passado algum tempo, deu mau resultado.
Eu sei a vontade que temos quando começamos a namorar com alguém. De estar sempre juntos, de fazer muitas coisas juntos, parece que o tempo nunca chega e a vontade nunca acaba. Mas essa pulsão, essa ansiedade e as borboletas na barriga vão acalmando (é bom que nunca passem, é muito bom que se mantenham, mas com menos voos, ou com voos mais softs), mas todos sabemos que depois da paixão vem a serenidade do amor. E é tão bom. O tempo de qualidade e não de quantidade. As rotinas boas e o saber aproveitar todos os momentos. Com ele (a) e connosco. Porque nos faz bem continuar a amar muito sem deixar de ter espaço para nós e para quem connosco vive. Porque nos faz bem manter a nossa essência e fazer tudo o que sempre fizemos, porque nos faz bem perceber que numa relação, as cedências em relação aos gostos/interesses e vontades de cada um são importantes, mas não significam que ao passar a partilhar a vida com alguém nos tornamos um só e deixamos de ter identidade própria.