quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

sobre tudo aquilo em que acredito*


«No fundo, tudo parece resumir-se a estes dois pólos: o que não depende de nós e o que depende de nós. Tão certa, esta formulação de Aldous Huxley. As coisas acontecem e, a maior parte das vezes, não há como antecipar ou prever. E então, se aquilo que acontece não acabar connosco, há a outra parte. A parte em que decidimos ou não decidimos, dizemos ou não dizemos, fazemos ou não fazemos. E nem é preciso cenários extremos ou dilemas morais ou situações dramáticas. Ao contrário. É a filigrana frágil de que são tecidos os dias. E tantas, as vezes em que fazemos coisas erradas pelas razões certas. Tantas. Que encontremos sempre em nós razões certas que nos salvem das coisas erradas que fazemos. Não perderemos tudo, se assim for. Haverá isso do nosso lado. E isso não é pouco nem é passível de ser rasurado. Pertence-nos. 
Faz parte do processo interior destes dias pensar a sério. Olhar carinhosamente para as cicatrizes que são uma marca que nos dá carácter e ir tratando todos os dias das outras, das feridas ainda abertas. O confronto interior é uma coisa bem difícil, mas não é inconciliável com a leveza. Se possível, acrescenta-lhe sentido, sustenta-a ainda mais. Em mais um paradoxo, o que acontece é isto: somos ainda mais inteiros nas coisas, ficamos ainda mais felizes com aquilo que sempre nos fez felizes, gostamos ainda mais de gostar. É isso.»